Se eu para e ver na sequência todos os trabalhos da Karina Buhr, consigo traçar um mapa de boa parte da minha vida musical. Primeira vez que ouvi a voz de Karina por 2003, 2004. Tinha aí meus quinze anos e estava saindo do mundo do heavy metal e entrando pro Ensino Médio na época, mas nenhuma dessas foi a coisa mais importante que me aconteceu naquele ano: o que me mudou mesmo foi a banda larga. Passava finais de semana inteiro no computador, baixando um disco atrás do outro na lista do finado blog do Som Barato. Desse tempo vieram Mombojó, China, Mundo Livre, Bonsucesso Samba Clube, Comadre Fulozinha e Eddie. Devo ter passado uns quatro anos mergulhado na música pernambucana até o pescoço, já curtindo a maior ressaca de Los Hermanos e descobrindo que Nação Zumbi era mesmo a melhor banda do Brasil.
E no meio de toda essa euforia musical, lá estava ela. Cantando com Isaar, com Fábio Trummer, uma vozinha descompensada e algo percursiva, que parecia se misturar com os tambores e, toda vez que se soltava, envolvia-se num tom de sinceridade vocal que dava gosto. Karina Buhr estava em todos os cantos, em todas as minhas listas: em discos do Mundo Livre, do Erasto Vasconcelos e de todos seus projetos paralelos e principais. Depois, já eu saindo da concha e começando a ouvir outras coisas, encontrei Dj Dolores através de uma regravação do Fellini e... lá estava ela, na Orquestra Santa Massa. Quando saí de casa, começo do ano passado, "Vou voltar andando" da Comadre Fulozinha tocava incessantemente no mp3, me dizendo todo o tempo que estava tudo bem, "a cada pedra no caminho, respira e salta".
E agora me vem esse trabalho solo. "Eu Menti pra Você" é, finalmente, um desafogar no meio de tantas cantoras bossa-cult-com-barulhinhos e traz Karina Buhr com todas aquelas características que a tornaram umas das minhas cantoras favoritas. Suavidade quando se precisa ser suave, força quando se precisa acordar, sinceridade pra se saber gente. Se desdobrando em muitos ritmos apoiada pelos ecos de Guizado, Catatau e Scandurra e não se encaixando em nenhum gênero específico, Karina caba entrando na classificação cearense de "só a massa". Apenas o discurso cotidiano de "Esperança Cansa" e a mordacidade de "Ciranda do Incentivo" já valeriam o disco, mas ainda há pérolas como as poéticas "O Pé" e "Avião Aeroporto". Ouve lá, depois passa aqui que a gente conversa. Agora tô afim de estourar um plástico-bolha.
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