sexta-feira, 16 de março de 2012

Todo mundo tem um beatle favorito. Eu não.

Por quase duas horas, o menino de Manchester cantou no pé do meu ouvido canções que há muito tempo preenchem minhas tardes quentes. Ele não canta mantras para salvar o planeta, muito menos diz que o amanhã há de ser melhor. Você deve estar achando que é um rapaz ranzinza, chato pra caralho. Você está muitíssimo certo. Ele é tudo isso, mas me sabe muito.

Dia nove de março de dois mil e doce a Grande Onda chegou e inundou meu peito. Chegamos perto de 21h na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro (essa cidade já tão minha), para realizar um grande plano de fuga de uma vida. Morrissey, o garoto de Manchester, iria cantar naquela noite, que só não estava mais quente que meu coração.

Poderia dizer que a apoteose começou ali, exatamente naquela noite, mas não. Tudo começou em novembro de 2011, o ano que tudo se rearrumou. Justo nessa data que o desejo de vê-lo de perto foi compartilhado pela primeira vez com uma amiga muito querida. Desde então, todos os dias que precederam esse fenômeno foram voltados para presenciar esse show. Expectativas, planos, movimentação e toda uma cidade segurando nossas mãos (na primeira pessoa do plural, porque nunca estive sozinha nessa aventura afetiva) e não há nada no mundo que possa explicar isso.

*_*
Era minha primeira vez em solo carioca. De repente, depois de uma caminhada pelas vias da cidade, me dei conta que estava de frente ao local que ia celebrar essa nova fase da minha vida. Não sei se foi destino ou sorte, mas foi justamente na hora em que homens içavam uma placa para anunciar a atração da noite: Ele. Coração taquicárdico parte um.

Fila. Ingresso em mãos. Agonia. O tempo que não corria nunca.

Morrissey entrou no palco e, depois disso, não existia mais nada na minha frente. Não sabia se acreditava se estava presenciando a tudo aquilo ou se era tudo coisa da minha cabeça. Não havia multidão, nem gritaria, nem calor. Não importava mais nada. Foram dezenove músicas que poderiam nunca mais acabar e amarrar dezenas outras, que continuaria tudo muito lindo. Tudo muito adolescente.

Setlist que nossa nova amiga conseguiu pegar. Ô, inveja...
52 anos, mas com um coração ainda adolescente. Um herdeiro de todas as angústias juvenis e dos clichês. Tão clichê quanto não mais conseguir ouvir sua bagagem dentro do ônibus, enquanto a cidade tenta crescer dentro de mim.

Coração taquicárdico parte dois.

“Não solta aqui da minha mão que é pra gente não se perder”. Mas aqui ninguém se perde, só se acha. Agora minha vida foi dividida em duas partes: antes e agora. E então, não sei mais onde vai dar. Prefiro submergir ainda mais nessa inundação. 

Uma das únicas certezas que tenho na vida era de que não poderia morrer sem antes ouvir ao vivo canções como “There Is a Light That Never Goes Out” (na qual eu não sabia se chorava, fechava os olhos, cantava junto ou tinha um ataque cardíaco. Ainda não consigo acreditar que ouvi minha música favorita ao vivo), “Still Ill” (que dancei como se não houvesse amanhã espremida entre a multidão de apaixonados), “How Soon Is Now?” (nada no mundo vai conseguir explicar quando ouvi os primeiros acordes dessa música, nada) músicas fodas da fase do The Smiths. “You Have Killed Me” (com direito à camisa arremessada à plateia e desespero dos fãs), “I'm Throwing My Arms Around Paris” (ele cantou pra mim, que eu sei) e “One Day Goodbye Will Be Farewell” (música de encerramento da noite mais inefável do planeta).



Valeu cada hora de espera e de sufoco.
Eu nunca senti tanto amor.


******************************************************
Post dedicado a todos os envolvidos. São muitos nomes e não caberiam aqui, mas vocês sabem quem são. Muitíssimo agradecida por tanto carinho e apoio financeiro-espiritual-afetivo-aconchegante.

8 comentários:

  1. E o melhor de tudo foi que, lá de onde eu estava, eu te vi passando mal (ou bem). rsrs
    Mas aquela noite foi tudo isso aí, e mais um pouco.

    ResponderExcluir
  2. Eita que é muita emoção hein Keka?

    ResponderExcluir
  3. Sei como é isso Keh, senti a mesma coisa quando escutei Idioteque ao vivo. Não sabia se ria, chorava, gritava ou fechava os olhos. Fiz tudo ao mesmo tempo. =***

    ResponderExcluir
  4. Texto deliciosamente bem escrito, Gabi.
    Senti-me lá com vcs.

    ResponderExcluir
  5. quanta lindeza *-*
    soh vai ser mais emocionante quanto eu ver um show do weezer =p

    ResponderExcluir
  6. Somente as lágrimas que chorei nesse dia podem explicar o que senti ao ver meu maior ídolo cantando as músicas que mais gosto ao vivo.

    ResponderExcluir
  7. Eita, senti - me como se tivesse lá, ao ler teu Post! Parabéns! :)

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...